"Deus morreu e a sua morte foi a vida do mundo", afirmou uma vez Philipp Mainländer. Foi Nietzsche que tornou famosa a noção e escreveu também que, embora "Deus esteja morto, tendo em conta o caminho dos homens, pode ainda haver cavernas durante milhares de anos em que a sua sombra será representada e projectada". Então, o que devemos fazer deste conceito que fascinou tantos filósofos, teólogos, poetas e artistas durante séculos e que gerou tantas revelações sobre transcendência e espiritualidade, Razão e Iluminação, e, acima de tudo, sobre a condição humana? Como podemos dar sentido a este paradoxo aparentemente irresolúvel e impossível – a ideia de Deus estar morto e a vida do mundo, a vida espiritual, em particular, continuar apesar disso?


O cinema pode dar algumas respostas. Não só por ser uma arte exemplar de sombras que se movem nas paredes das nossas cavernas modernas, mas também por ter uma capacidade ímpar de se esforçar por alcançar a transcendência. Cada uma das sete sessões do programa representará um ângulo conceptual diferente na abordagem desta ideia. O cinema permite-nos explorar o tema da Morte de Deus tal como é – como um paradoxo majestoso que abre infinitas possibilidades de reflexão e de revelação.


Onde um realizador encontra potencial iconoclástico e espaço para a concretização de um impulso misoteísta, outro sente entusiasmo com o espectáculo psicadélico puro e simples das figuras semelhantes a deuses que afinal provam ser mortais. Onde um filme imagina causticamente o mundo deixado sem Deus, o outro já lança as sementes do renascimento espiritual. Absurdidade e êxtase, desilusão e transcendência, o ritual e o milagre – todos eles encontram um lugar no programa “Morte de Deus” no LEFFEST 2021.


Curadores: Alexey Artamonov, Denis Ruzaev, Ines Branco López


Programa


Se Deus está morto, tudo é permitido
11 de Novembro, 15h, Teatro Tivoli BBVA
Em Nome do Pai (1971), de Marco Bellocchio
As Imortais (2018), de Caroline Deruas 


Se Deus morrer, quem nos dará a notícia?
11 de Novembro, 19h, Cinema Medeia Nimas
Maria Madalena (2005), de Abel Ferrara
Filme Surpresa


Se Deus está morto, então quem fez este filme?
13 de Novembro, 10h, Cinema Medeia Nimas
As Bodas de Deus (1998), de João César Monteiro 


A morte de Deus significa uma alteração no destino
14 de Novembro, 11h, Cinema Medeia Nimas
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha


E se matássemos o Deus do homem branco?
16 de Novembro, 12h, Teatro Tivoli BBVA
The Diary of an African Nun (1977), de Julie Dash
Fatma 75 (1975), de Selma Baccar


Se Deus não existe, quem se está a rir de nós?
15 de Novembro, 16h30, Cinema Medeia Nimas
This Transient Life (1970), de Akio Jissôji


Se Deus abandonou a humanidade, podem as imagens ser sagradas?
16 de Novembro, 14h30, Teatro Tivoli BBVA
Noite e Nevoeiro (1955), de Alain Resnais 
História(s) do cinema. Capítulo 1(a): Todas as Histórias (1988), Jean-Luc Godard


Os homens servem-se de Deus, e não o contrário
17 de Novembro, 16h, Cinema Medeia Nimas
In the Name of God (1992), de Anand Patwardhan


A ideologia substitui a religião. O que substitui a ideologia?
18 de Novembro, 18h, Cinema Medeia Nimas
Três canções sobre Lenine (1934), de Dziga Vertov
Sinos do Abismo: Fé e Superstição na Rússia (1993), de Werner Herzog