A secção Descobertas é o coração inquieto do LEFFEST, onde se revelam novos olhares e linguagens em ebulição. Oito filmes vindos da América, Europa, África e Ásia observam com proximidade os deslocamentos e desejos que atravessam as vidas de quem tenta construir futuro num mundo em permanente movimento.
A travessia começa no Ocidente. Em Lucky Lu, um emigrante chinês acabado de chegar a Nova Iorque vê-se lançado numa corrida desesperada pela cidade depois de a bicicleta, o seu único meio de sustento, ser roubada. O apartamento que alugou à espera da mulher e da filha torna-se frágil promessa. A mesma tensão lateja em Urchin, primeira longa-metragem do actor Harris Dickinson, onde Mike, jovem sem-abrigo, procura reinventar-se numa Londres crua e absurda. Frank Dillane, que é uma das presenças mais aguardadas desta edição do festival, foi distinguido em Cannes com o Prémio FIPRESCI de Melhor Actor Un Certain Regard pela sua interpretação.
O olhar desloca-se para o Norte da Europa. Em Yunan, um escritor sírio exilado vive num refúgio remoto nas ilhas Hallig, na Alemanha, onde o silêncio e a solidão dão lugar a pequenos gestos de bondade partilhados com Valeska e o seu filho. Noutro canto do continente, em DJ Ahmet, Ahmet, um jovem pastor da Macedónia do Norte, tropeça numa festa clandestina e descobre, entre a música e a vertigem, a possibilidade de outra vida, longe da rotina árida e dos sacrifícios familiares.
Em África, My Father’s Shadow conduz-nos a Lagos, durante a turbulenta crise eleitoral nigeriana de 1993. Inspirado em memórias reais, o filme acompanha um pai separado dos filhos pequenos, tentando regressar a casa num país em convulsão.
A Ásia surge com três olhares singulares. Em Homebound, candidato da Índia aos Óscares 2026, dois amigos de infância preparam-se para os exames de admissão à polícia, símbolo de ascensão social, numa luta silenciosa entre amizade e ambição. Já Shadowbox, passado nos subúrbios poeirentos de Calcutá, expõe as feridas de uma família marcada pela violência e pela exclusão social, quando um antigo soldado reaparece como suspeito de homicídio.
A selecção encerra na China, com Living the Land, vencedor do Urso de Prata de Melhor Realização no Festival de Berlim. Através da história de uma família rural dividida entre tradição e progresso, esta saga íntima acompanha quatro gerações desde 1991, ano em que a migração para as cidades alterou radicalmente o país.
No LEFFEST, estas Descobertas não são apenas títulos em estreia. São sinais vivos do nosso tempo, narrativas de fuga e reencontro, perda e persistência. O cinema, nas suas margens, volta a ser o lugar onde a humanidade se revela com maior clareza.