Com curadoria de Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Ines Branco Lopez.
A nossa relação com a morte passou por uma transformação significativa no mundo moderno, perdendo o carácter de reciprocidade que um dia teve. As esferas dos mortos e dos vivos já não se sobrepõem. Pelo contrário, a morte tornou-se algo a evitar. Os antepassados já não existem. Tornaram-se uma memória distante, um espectro do passado, uma construção ideológica.
Mas não trará este afastamento mais prejuízo do que benefício? Com a evolução do capitalismo e da industrialização, os mortos gradualmente deixaram de existir. Foram expulsos das redes simbólicas humanas. A desconexão espiritual que se estabelece entre a morte e a vida, o impedimento de qualquer relação recíproca, da dádiva e da troca simbólica entre os mortos e os vivos, paga-se com uma morte contínua nas nossas vidas. Sem uma relação simbólica com aqueles que viveram antes de nós, a internalização psicológica da própria mortalidade resulta numa angústia de finitude. Tal angústia já não tem como ser aliviada.
O nosso desejo de conquistar a morte é motivado por um desejo de sobrevivência, uma busca de eternidade e de preservação da vida como valor absoluto. No entanto, como Bataille nos lembra, a vida só existe na sua erupção na morte e no acto de troca. Querer que haja apenas vida é fazer com que haja apenas morte. Ao renunciarmos à morte, renunciamos à vida, substituindo-a por uma acumulação perpétua – acumulação de tempo.
Os antepassados são o ponto de encontro entre a morte e a vida, a natureza e a cultura. São eles que permitem a continuidade e circulação da vida. Sempre ligada à memória, esta relação é inerentemente colectiva. Ao contrário dos fantasmas, os antepassados existem graças à colectividade: nem a morte nem a memória são questões puramente individuais. Fazem parte de uma rede, de um núcleo composto por muitos seres, vivos e mortos. Se os fantasmas aparecem a um indivíduo, os antepassados existem para todos. Permitem que o presente herde o passado, transmutando-o, personificando-o e superando-o.
Ao longo da história, a nossa relação com os antepassados foi criada através da espiritualidade e da magia. Mas também foi expressa através das artes, palavras, cultura…
Assim como outras formas de arte, o cinema serve como meio para construir uma ponte entre nós e os nossos antepassados, permitindo-nos ouvir quem já não está connosco. Oferece um caminho para aprender uma história que é nossa, mas que tantas vezes nos parece distante; para descobrir uma identidade ou uma espiritualidade.
Se não podemos ser bruxos, ainda podemos ser cinéfilos…
O U V E R T U R E S, The living and the Dead Ensemble
Sabado 11 de novembro, 19h30, Cine-Teatro Turim
Com a presença de Sophonie Maignan e Léonard Jean-Baptiste, membros do Living and the Dead Ensemble
Night Time Go + Day in Life + Whutarr, Saltwater Dreams, Karrabing Collective
Domingo 12, 22h, Cine-Teatro Turim
The Outskirts, Pyotr Lutsik
Quinta-Feira 15, 17h, Cine-Teatro Turim
West Indies, Med Hondo
Sexta-feira 17, 14h, Cinema Medeia Nimas
Surname Viet Given Name Nam, Trinh T. Minh-há
Sexta-feira 17, 19h30, Cine-Teatro Turim
A Japanese Village, Shinsuke Ogawa
Sabado 18, 14h, Cine-Teatro Turim
Pedra Sozinha Não Sustém Panela + O Kimbanda Kambia, Ruy Duarte Carvalho
Domingo 19, 16h30, Cinema Medeia Nimas
The Haunted, Saodat Ismailova + The Mummy - The Night of Counting the Years, Chadi Abdel Salam
Domingo 19, 21h30, Cine-Teatro Turim