Grande Prémio do Júri João Bénard da Costa

16.11.2024

Os filmes que o Júri considerou, ex-aequo, ter das apostas artísticas mais arrojadas da Selecção Oficial em Competição foram The Shrouds, de David Cronenberg, e Rendez-vous avec Pol Pot, de Rithy Panh. De acordo com o Júri, “David Cronenberg sempre desafiou o tempo, e cada um dos seus filmes é uma máquina na qual viajamos para territórios inexplorados: à nossa volta porque o seu olhar sobre a realidade e as suas transformações estão sempre acessíveis; dentro de nós porque os seus filmes nos olham, desenterrando medos e desejos por vezes inconfessáveis. The Shrouds leva esta viagem ainda mais além. O mundo exterior no filme é claramente o nosso, ou melhor é o mundo como será num futuro próximo. The Shrouds é ficção científica porque Cronenberg adentra-se no futuro com acuidade e ironia, como já quase ninguém o faz, e isso seria suficiente para o tornar também um filme político. Mas The Shrouds é, acima de tudo, um filme profundamente humano. A dor e o luto que animam a narrativa são percorridos sem qualquer medo, com um sentido de verdade comovente, mas esta viagem transforma-se incrivelmente para nós em energia vital. É uma dádiva. É a partir desta transformação que o cinema surge, livre, sem restrições, uma imagem após a outra, um corpo após o outro, pura beleza.”

O Júri considerou o filme de Rithy Panh “um tour-de-force conceptual, bem como emocional, de dolorosa relevância para os nossos dilemas políticos actuais. O filme alterna perfeita e corajosamente entre registos de linguagem cinematográfica: – ficção e não-ficção, reconstituições encenadas de um passado traumático e imagens de arquivo, actores de carne e osso e os seus estranhos alter-egos de madeira em miniatura, - para tornar não só visíveis, mas visceralmente sentidos - a violência, a propaganda e os horrores dos regimes autoritários. Um olhar sobre os mecanismos de poder da repressão política, enquanto as ideologias utópicas se desligam da nossa humanidade.”