O exílio toca o mais profundo do ser humano: a sua identidade, o seu ser-no-mundo, a sua relação com o Outro. Constitui um desenraizamento, uma ruptura, uma saída de si, mas também, e sobretudo, um acto de sobrevivência. Não é uma simples situação geográfica, nem apenas a consequência de uma separação da terra natal, é também um estado mental, um exílio de si para si. Num mundo marcado por genocídios, guerras, crimes em massa e violência de ódio, é obrigação do LEFFEST adoptar um olhar político e crítico. Assim, programamos este ciclo de 21 filmes, vindos dos quatro cantos do mundo, para reflectir sobre uma experiência que é, ao mesmo tempo, íntima e universal.
A abertura do ciclo terá lugar no Cinema Medeia Nimas, no dia 7 de Novembro, com a projecção de Nostalgia (1983), do mestre Andrei Tarkovsky, sobre um poeta russo em busca do seu passado cultural em Itália, reflexo da própria experiência de Tarkovsky, que abandonara a União Soviética em 1979 por conflitos com as autoridades que procuravam controlar os seus filmes.
Khartoum (2025) é a produção mais recente do programa, em estreia nacional, um documentário feito a várias mãos. O percurso para a sua criação é único e recua a 2022, ano em que quatro cineastas sudaneses e um realizador e argumentista britânico começaram a filmar as vidas de cinco residentes de Khartoum, no Sudão. Empurrados para fora do país na sequência do conflito entre o exército e as milícias, que deslocou milhões de pessoas, reinventaram o projecto, adicionando animação e efeitos visuais. O filme será exibido no Pequeno Auditório da Culturgest, no dia 9 de Novembro.
Do mais recente para o mais antigo: incluem-se no programa duas curtas-metragens de Charlie Chaplin, O Emigrante (1917) e O Peregrino (1923), exibidas em conjunto, primeiro nos Recreios da Amadora, no dia 9, e, depois, no Teatro do Bairro, dia 13, com música ao vivo por Rodrigo Amado, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro. As duas curtas serão complementadas por Chaplin: Spirit of the Tramp (2025), um documentário de Carmen Chaplin sobre a herança romani do seu avô, que inspirou a personagem de Charlot, uma das mais emblemáticas representações do exílio no cinema. O filme é exibido a 16 de Novembro, na Sala 3 do Cinema São Jorge; a realizadora estará presente na sessão para uma conversa após a projecção.
News from Home (1975), no dia 10 de Novembro; Persépolis (2007), no dia 12; e I Am the One Who Brings Flowers to Her Grave (2006), no dia 14, constituem abordagens autobiográficas da condição do exílio através do cinema. No primeiro, Chantal Akerman lê as cartas que a sua mãe, na Bélgica, lhe enviou durante o período em que esteve em Nova Iorque. No segundo, Marjane Satrapi narra a sua infância no Irão e o que mudou após a Revolução Islâmica de 1979, que a levou a abandonar o país. No último, Hala Al-Abdallah, exilada há vinte e cinco anos, reflecte sobre a perda e a resiliência numa investigação pessoal da sua terra natal, a Síria.
Serão exibidos ainda clássicos como O Milagre de Anne Sullivan (1962), de Arthur Penn, e Lilith e o Seu Destino (1964), de Robert Rossen, no dia 11 de Novembro; Teza (2008), de Haile Gerima, no dia 16, numa sessão que será seguida de conversa com o cineasta Billy Woodberry; e Soleil Ô (1970), de Med Hondo.
No âmbito da “Noite Síria”, no dia 14, passa no grande ecrã Our Terrible Country, de Mohammad Ali Atassi e Ziad Homsi, que acompanha a perigosa viagem do intelectual e dissidente sírio Yassin Haj Saleh e do fotógrafo rebelde Ziad Homsi, ao longo da área libertada de Douma, Síria, onde se conhecem, até Raqqa.
Toda a informação sobre a programação dos Exílios pode ser consultada aqui.