“Um filme com um sorriso – e talvez, uma lágrima.” É esta advertência ao espectador incauto que abre a primeira longa-metragem de Charlie Chaplin. Não se trata de uma nota de intenções, menos ainda da mera hipótese que o “talvez” parece denunciar. É que, no cinema de Chaplin, as lágrimas sucedem-se aos sorrisos (e aos risos) numa espantosa e necessária dialética: o espectador chora porque riu até onde foi possível rir; chora porque, por fim, foi vencido pelo silêncio da imagem – a imagem de um órfão e de um vagabundo que faz as vezes de seu pai.
A história de The Kid é conhecida: um vagabundo tão ridículo quanto generoso toma a seu cargo uma criança abandonada. Nasce entre eles um sentimento de compaixão que se torna condição de vida para ambos. As coisas complicam-se, é claro, quando a mãe biológica da criança torna a entrar em cena, arrependida do que fez. O resto é o cinema no que de mais justo e poético ele pode ser.
The Kid não é apenas um ambicioso salto em frente na carreira de Chaplin, que à data de estreia já detinha o estatuto de celebridade internacional pelos seus curtos filmes cómicos. Trata-se, antes de mais, do momento inaugural de uma forma humanista de conceber o cinema. Sem este filme, não é apenas a obra de Chaplin que se torna incompreensível; todos os “realismos” cinematográficos que se lhe seguem perdem um dos seus modelos máximos, porque The Kid, e por extensão o próprio Chaplin, representam isso mesmo: uma proeza irrepetível na história do cinema, como uma dessas estrelas mortas cuja luz ainda hoje recebemos.
- Duração: 68
- Ano de produção: 1921
- País: Estados Unidos da América
- Legendas: Legendas: PT
National Film Registry, 2011
Online Film & Television Association Hall of Fame, 2019