Isabel Ruth (Tomar, 1940) é o rosto do Cinema Novo português, com os seus papéis em Os Verdes Anos (1963) e Mudar de Vida (1966), de Paulo Rocha, e Domingo à Tarde (1966), de António de Macedo. Antes do cinema, fora bailarina (estudou na Royal Ballet School de Londres, e depois ingressou no Grupo Experimental de Ballet, que mais tarde viria a ser o Ballet Gulbenkian), e, como escreveu João Bénard da Costa, é uma actriz “singular”, das raras que na nossa singular cinematografia “irradiaram uma luz própria”, “que só no cinema existe e só a câmara descobre”.
Em 1967 foi viver para Itália, onde frequentou os meios artísticos, tornando-se amiga de Pier Paolo Pasolini (é figurante em Édipo Rei) e Bernardo Bertolucci; nesse período, participa em três longas-metragens (La rivoluzione sessuale, de Riccardo Ghione, H2S, de Roberto Faenza e Il rapporto, de Lionello Massobrio, entre algumas curtas), e faz teatro ao lado de Laura Betti. Pouco depois, viajou ao Nepal, à Índia e a Istambul, voltando a viver em Itália e também em Ibiza. Regressada a Portugal nos anos 70, renasce para o cinema a partir dos anos 80, ganhando assim uma segunda vida, que continua incansável até hoje, com mais de 100 títulos na sua filmografia.
Trabalhou com João Botelho (Conversa Acabada – 1982, e Tempos Difíceis – 1983); Jorge Silva Melo (Agosto, 1987); José Álvaro Morais (O Bobo – 1987 – e Peixe-Lua – 2000 ); Manoel de Oliveira (Vale Abraão – 1992, A Caixa – 1994, Viagem ao Princípio do Mundo – 1997, Inquietude – 1998, Vou para Casa – 2001, O Princípio da Incerteza – 2002, Espelho Mágico – 2005, O Estranho Caso de Angélica – 2010); de novo com Paulo Rocha (O Desejado ou As Montanhas da Lua – 1987, O Rio do Ouro – 1998, A Raiz do Coração – 2000, Vanitas – 2007, Se Eu Fosse Ladrão, Roubava – 2013), Fernando Lopes (O Delfim, 2002), Alberto Seixas Santos (E o Tempo Passa, 2011), Pedro Costa (Ossos, 1997), Teresa Villaverde (A Idade Maior – 1991, Os Mutantes – 1998); Sérgio Tréfaut (Viagem a Portugal – 2011, Treblinka – 2016, Raiva – 2018), Manuel Mozos (Xavier, 1992), Eduardo Guedes (Na Pele do Urso – 1989, Pax – 1994), Raquel Freire (Rasganço, 2001), Margarida Gil (Adriana, 2004), Catarina Ruivo (Daqui P’ra Frente, 2007), Mário Barroso (Ordem Moral, 2020), João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (Onde Fica esta Rua? ou Sem Antes Nem Depois, 2023). Os realizadores das novas gerações, mesmo ainda enquanto alunos das escolas de cinema, muitas vezes procuram Isabel Ruth para participar nas suas curtas-metragens.
Da sua colaboração com cineastas estrangeiros, destacam-se ainda Três Pontes Sobre o Rio (1999) de Jean-Claude Biette, com quem fizera há muitos anos uma curta em Roma (Ecco ho letto), e os filmes do italiano Tonino De Bernardi (nomeadamente, Sorrisi asmatici - Fiori del destino, 1997, e Apaixonadas, 1999). Foi por várias vezes premiada. Em 2006 publicou Fotopoesia, uma fotobiografia feita em poemas, e mais recentemente publicou o seu primeiro disco: Português Suave, composto por dez canções com música e letra da sua autoria, e arranjos de piano e produção do músico Agir.
O LEFFEST homenageia Isabel Ruth com uma escolha de filmes em colaboração com a actriz, que acompanha as projecções, conversando com realizadores, actores e o público.