Curadoria e Moderação de Juan Branco (15-17 de Novembro)
Resistência. Nesta palavra, um tremor, característico de uma radicalidade inerente àqueles que não se conformam perante as injustiças. Resistir significa, primeiramente, sair do quadro estabelecido, tomar por certo um perigo que obrigará a desfazermo-nos de constrangimentos pré-existentes, a empunhar, a partir do nosso corpo e do nosso espírito, uma força telúrica feita para velar, e que de repente é chamada a erguer-se.
Resistir é antes de tudo agir para pensar. Agir porque pensamos. Agir para produzir um pensamento. Avançar em contramão perante uma ordem existente, opor-lhe uma força viva, e recusar a submissão que até então era exigida, inscrita em corpos vergados, em espíritos prostrados.
Resistir é inscrever-se num colectivo, que, quando subitamente falha, apela ao sacrifício, a gestos que nunca deveriam ter existido. É inscrever-se numa longa história de gestos dissimulados. É inscrever-se numa estrutura que pensávamos não existir.
Entramos hoje numa fase de resistência. Estruturalmente. Num momento da história que fará surgir e multiplicar gestos que, num primeiro momento, surgirão isolados, mas que progressivamente se irão cruzar, se irão opor, até se integrarem completamente num todo. Até se tornarem um só nesse lugar onde o inimigo teria tentado rasurar a multiplicidade.
Mas além da polissemia dos significantes históricos, a resistência envolve, antes de tudo, a qualificação do ser. A explosão do político e dos edifícios simbólicos, das hierarquias e das estruturas pré-existentes, leva a um combate espectral, difícil de levar a cabo e sob o risco permanente de cair na insignificância: o inimigo já lá não está, porque é omnipresente.
Num continente condenado à inexistência que resulta da fragmentação do poder tradicional, inicia-se então um equilíbrio de forças cuja natureza é incerta, e que procura, em nome da afirmação de um ser, ultrapassar essa multiplicidade fugidia. As linhas de fuga começam a estreitar-se, e comunidades inesperadas a formar-se.
Será necessário, como antigamente, ingressar numa luta corpo a corpo? Voltar a correr riscos num lugar em que tudo conduz à ruína? Que matrizes adoptar num mundo pós-marxista e carente de ideologia própria? A quem nos podemos aliar? De quem nos devemos afastar?
E, perante o aparecimento de monstros distópicos que combinam poderes e forças, estruturas e fluxos, massas e corpos, que lutas devemos levar avante para que nos possamos impôr e não apenas resistir?
Juan Branco,
Curador
Oradores Confirmados:
Luigi de Magistris – Presidente da Câmara de Nápoles, Ex-Procurador-Geral
Rafael Correa – Presidente do Equador entre 2007 e 2017
Guangcheng Chen – Advogado e Activista de Direitos Civis
Jacob Appelbaum – Jornalista, Investigador de Segurança digital e Hacker Independente
Maxime Nicolle – Activista e Representante do Movimento dos Coletes Amarelos
Francisco São Bento – Presidente do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas
Omar Barghouti – Co-Fundador do movimento Boycott, Divestment and Sanctions (BDS)
Salah Dabouz – Advogado e activista pela defesa dos Direitos Humanos
Mehdi Belhaj Kacem – Filósofo
Minna Salami – Jornalista e Fundadora do blog MsAfropolitan
Ashish Kothari – Ambientalista e Membro-Fundador do Grupo Kalpavriksh
Olivier Goudet – Presidente da Associação Trop Violans
Yvane Goua – Porta-voz da Associação Trop Violans
Dominique Beyreuther Minkov – Advogada da Ordem de Paris
Omer Shatz – Advogado e Especialista em Direito Internacional
Guilherme Serôdio – Fundador do Extinction Rebellion na Bélgica
Miguel Duarte - Activista e Voluntário do barco de resgate Iuventa
Programa de filmes:
Comportem-se Como Adultos, Costa-Gavras
Marighella, Wagner Moura
Passámos por Cá, Ken Loach
Joker, Todd Phillips
Fome, Steve McQueen
Horários aproximados/Sujeitos a alterações
Entrada para debates grátis
Bilhetes para filmes à venda nos locais de exibição, possibilidade de reserva online
PROGRAMA
Sexta 15, às 21h30 - Espaço Nimas
Passámos por Cá, Ken Loach (2019)
Seguido de Debate – Revolução e Sociedade: Como Lutar Sobre a Questão Social? com Juan Branco, Maxime Nicolle, Mehdi Belhaj Kacem e Salah Dabouz
Sábado 16, às 12h00 - Centro Cultural Olga Cadaval Auditório Acácio Barreiros
Fome, Steve McQueen (2008)
Apresentado por Juan Branco
Sábado 16, às 14h00 - Centro Cultural Olga Cadaval Auditório Jorge Sampaio
Abertura Oficial do Simpósio Resistência – Qual é o estado do Mundo? Introdução de Juan Branco. Apresentações de Omar Barghouti, Dominique Beyreuther Minkov, Olivier Goudet, Maxime Nicolle, Salah Dabouz, Chen Guangcheng e Minna Salami
Sábado 16, às 16h00 - Centro Cultural Olga Cadaval Auditório Jorge Sampaio
Debate – Virtualidade da Resistência, Resistência na Virtualidade, com Jacob Appelbaum e Juan Branco
Sábado 16, às 17h30 - Centro Cultural Olga Cadaval Auditório Jorge Sampaio
Comportem-se Como Adultos, Costa-Gavras (2019)
Seguido de debate– Quo Vadis Europa? com Costa-Gavras, Luigi de Magistris, Omer Shatz, Maxime Nicolle e Miguel Duarte
Sábado 16, às 21h00 - Sala Fernando Lopes, Universidade Lusófona
Joker, Todd Philips (2019)
Seguido de debate – Uma Revolução das Bases Ainda é Possível? com Maxime Nicolle, Salah Dabouz e Yvane Goua
Domingo 17, às 12h00 - Teatro Tivoli BBVA
Debate – Resistir à Violência, com Luigi de Magistris, Omar Barghouti, Mehdi Belhaj Kacem, Dominique Beyreuther Minkov e Yvane Goua
Domingo 17, às 14h00 - Teatro Tivoli BBVA
Debate – Lutas Locais, Lutas Mundiais: Uma Nova Ecologia da Resistência com Minna Salami, Olivier Goudet, Ashish Kothari e Guilherme Serôdio
Domingo 17, às 15h00 - Teatro Tivoli BBVA
Debate – O Direito à Greve e as Lutas Laborais entre Paulo Branco e Francisco São Bento, Presidente do SNMMP
Domingo 17, às 15h30 - Teatro Tivoli BBVA
Palestra – Resistir contra Plataformas e Sistemas Informáticos Injustos com Richard Stallman
Domingo 17, às 17h00 - Teatro Tivoli BBVA
Debate – Reinventar o Mediterrâneo: Da Palestina aos Refugiados, passando pelo Magreb e Pelas Revoluções Árabes com Salah Dabouz, Omar Barghouti, Omer Shatz, Mehdi Belhaj Kacem e Miguel Duarte
Domingo 17, às 18h30 - Teatro Tivoli BBVA
Palestra com Rafael Correa
Domingo 17, às 20h00 - Teatro Tivoli BBVA
Intervenção de Chen Guangcheng (vídeo-entrevista)
Domingo 17, às 21h00 - Teatro Tivoli BBVA
Marighella, Wagner Moura (2019)
Seguido de conversa com Wagner Moura e Felipe Braga