Julie Dash foi a primeira mulher afro-americana com um filme distribuído nos cinemas norte-americanos - o aclamado Daughters of Dust (1991), revolucionário na abolição de barreiras raciais e de género dentro da produção cinematográfica afro-americana.
De presença inédita em Portugal, é uma das cineastas associadas ao movimento L.A Rebellion, ou ‘Los Angeles School of Black Filmmakers’: uma geração de realizadores dos anos 60 a 80 da UCLA, criadores de um revolucionário Cinema Negro divergente das convenções de Hollywood e atento às reais vivências da comunidade afro-americana.
No início do seu percurso, Dash realizou três curta-metragens: Four Women (1975), baseada na composição com o mesmo nome de Nina Simone e representativa dos estereótipos da mulher afro-americana a tentar sobreviver nos Estados Unidos; The Diary of an African Nun (1977), inspirada num conto de Alice Walker sobre as dúvidas de uma freira ugandesa comprometida com os votos de pobreza, castidade e obediência divinas e vencedora do Prémio Estudantil do Directors Guild of America; e Illusions (1982), sobre a integração de uma jovem afro-americana no preconceituoso meio de Hollywood à custa da vivência aberta da sua identidade afro-americana.
Illusions foi em 2020 selecionado para preservação no Registo Nacional de Filmes da Livraria do Congresso Americano, juntando-se nesse arquivo ao mais reconhecido filme de Julia Dash: Daughters of the Dust (1991), selecionado para preservação ainda em 2004. Enquanto retrato da migração de uma família gullah da ilha de Santa Helena para o norte dos Estados Unidos e do doloroso desprendimento das tradições étnicas e comunitárias que lhes eram familiares, Daughters of the Dust é seminal no cinema afro-americano. Galardoado com múltiplos prémios no cinema - como o Prémio de Cinematografia no Sundance Film Festival (1991), o Prémio de Melhor Redescoberta pela Boston Society of Film Critics Awards (2013) e o Prémio Especial pelo New York Film Critics Circle (2016) -, o filme tem incluído também a Seleção Oficial dos festivais internacionais de cinema de Toronto (1991), Fribourg (2019), Locarno (2019), Dublin (2021) e Sidney (2022), entre outros.
Adicionalmente, a realizadora produziu vídeos para músicos como Peabo Bryson, Adriana Evans e Tracy Chapman, e tem expandido o seu trabalho na televisão com produções como Funny Valentines (1999) e Rosa Parks Story (2002) - onde Dash relata a história da heróica representante do movimento dos direitos civis, reconhecida pela recusa em obedecer às preconceituosas leis americanas de segregação racial nos transportes públicos nos anos 50. Mantendo o seu envolvimento sócio-político, Dash participou na produção de uma antologia sobre o movimentos dos direitos civis focada no contributo das mais icónicas mulheres do movimento intitulada Women of the Movement (2022), e continua a prática docente nas conceituadas Universidades de Stanford, Princeton, Harvard e Yale.