Jean-Luc Godard foi um dos cineastas cujo pensamento e obra fílmica mais influência exerceram (e mais análise teórica e crítica suscitaram, sendo que o seu efeito incalculável se prolonga) sobre o cinema moderno e outros domínios artísticos. Com um percurso feito em vários andamentos – dos princípios defendidos nos tempos de crítico nos Cahiers du Cinéma, passados ao acto na estética da Nouvelle Vague, de que foi figura de proa (com o seminal À Bout de Souffle a abrir um conjunto de títulos igualmente marcantes, como Viver a sua Vida, O Desprezo, Pedro, o Louco, Made in U.S.A. ou o cáustico Week-End, onde se declara o fim do próprio cinema), aos experimentais filmes-ensaio recentes (Filme Socialismo, Adeus à Linguagem e o seu último filme O Livro de Imagem), passando pelo período mais radical (o do Grupo Dziga Vertov), estética e politicamente – Godard ergueu um corpo de trabalho imenso e desafiante.
A sua obra, profundamente reflexiva, plena de citações, referências ou alusões de várias origens (cinematográficas, literárias, musicais, filosóficas, científicas, de teoria política), capaz de fundir “alta” e “baixa” cultura, trabalhando de forma inovadora as imagens de arquivo, o vídeo (toda a produção da SonImage, a companhia que fundou com Anne-Marie Miéville em 1972 é um pequeno mundo a descobrir) e o 3D, interpela a História (e a história do cinema, com um clímax no monumental História(s) do Cinema), os traumas do nosso tempo e a linguagem (e os seus limites) com que (não) comunicamos, sempre com uma assinatura absolutamente inconfundível.
Em 2016, o LEFFEST prestou homenagem a Godard através da organização da primeira retrospectiva integral da sua obra e do Simpósio Internacional “Godard vu par…” que reuniu realizadores, escritores, críticos, ensaístas e outros artistas que discutiram a influência do cineasta no seu trabalho. É também a este autor incontornável que o festival continuará a regressar, uma e outra vez, com sessões especiais e outros programas, contribuindo para manter vivo o seu legado.