Exposição de Fotografia
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As imagens de David Lynch têm como método a fotomontagem, a partir de retratos fotográficos recortados, reproduções de desenhos, gravuras de diferentes tipos e referências muito diversas, que permitem a associação de pessoas ou cenas que pertencem a dimensões espácio-temporais distintas. A recomposição feita pela fotomontagem não está relacionada com a imagem unitária da pintura, mas com o cinema: evoca a montagem cinematográfica, que tem o poder de dividir a imagem e recompô-la em disposições irreais. Assim como o seu cinema, a fotomontagem de Lynch recorta os corpos e tenta apagar os traços do corte, conglomerando o díspar numa imagem que, no entanto, permanece estalada por dentro.


A violência irruptiva e o conflituoso são duas forças fundamentais para a poética lynchiana, totalmente dominada pelo sonho. O sonho como uma contradição que se manifesta no real, como uma forma de destruir o mundo que a razão acomodou. E é através dele, sob os auspícios de um desejo sem barreiras lógicas, que o autor determina que tudo o que importa é a imagem. Todo o real se concretiza num transe de transformação e concepção, mas apenas no mundo dos sonhos ou das imagens. Só neste plano é possível o surgimento da realidade profunda, oculta pelas relações instrumentais ou quotidianas. Pode então afirmar-se, que o lugar onde habita o pensamento de Lynch é aquele onde o Terror que anula e o Assombro que ampara deixam de entender-se contraditoriamente. 


As imagens de Lynch descobrem duas coisas ao mesmo tempo, duas condições intrinsecamente ligadas: por um lado, a interpenetração entre o inconsciente e a realidade e, por consequência, a imbricação do sexual no visual. Tudo isto tem que ver, sem dúvida, com o conceito do unheimlich freudiano (“a inquietante estranheza”). Quer dizer, um interesse nos acontecimentos em que a matéria reprimida regressa de tal maneira que desestabiliza a identidade unitária do sujeito. 


Alberto Ruiz de Samaniego


A exposição inaugura a 17 de Novembro, no MU.SA, em Sintra.


Small Stories, de David Lynch, foi co-organizada pela Maison Européenne de la Photographie e a Item Gallery (Paris).