Exposição P857 — Dahaleez Collective

8 de Novembro, 18h
Galeria ZDB
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P857. Um número no mapa, simplesmente um número — sem nomes. Sem rostos. Sem céu. Sem fôlego. Apenas coordenadas achatadas num quadrado. Areia, outrora em movimento, viva, agora presa a uma quadrícula. Uma designação. Um apagamento. P857. Rimal do Sul. “Rimal” — a palavra árabe para "areia".


Suave, movediça, dantes esta areia abrigava casas; não só lares empoeirados, com vozes e varandas repletas de ervas. A Rua Omar Mukhtar atravessava tudo como uma lembrança do movimento. E o mar — sempre o mar — respirava ao nosso lado. Porém, no dia 10 de Outubro de 2023, essa respiração foi-nos tirada. De uma só vez. Muitos entes queridos ainda jazem sob os escombros. Incontáveis. Sem sepultura. Silenciados. Agora, dois anos depois, a areia guarda apenas fragmentos daquilo que não acreditamos ter desaparecido; não sem um adeus. P857. Nunca foi apenas um número, mas fizeram com que fosse — pixels num ecrã.


É mais fácil bombardear um pixel do que uma árvore. É mais fácil quando as árvores não têm nomes. Quando o solo não tem história, quando as pessoas se tornam dados; será que a cartografia evoluiu para encolher o mundo? Para dobrá-lo em pedaços que podem desaparecer num clique? Será que cada linha era um prelúdio para o desaparecimento? E assim, num mundo que não consegue encontrar significado em pixels abstractos, criamos uma exposição. Não do que é, mas do que nos lembramos que foi, e do que ainda insiste em ser, simplesmente. Fazemos o convite para uma espiral — não uma galeria, não uma sala, mas um colapso do espaço e do tempo. Entre e escute: Será que eles realmente partiram? Quando partirmos, a memória seguir-nos-á? Devíamos ter ficado, ou a terra deveria ter-nos levado também? Quem são eles? Quem somos nós? O que é o normal? E será que alguma vez existiu aqui? O que significa voltar? Será que a espiral do sonho da morte não guarda respostas? Apenas ecos. Quanto mais fundo se for, mais o tempo se dobra.


Esta distância entre o visitante e o P857 não é apenas de quilómetros. É o espaço entre o significado e a revelação. É onde a memória se transforma em tempo composto, onde décadas se sobrepõem num único fôlego.

Não estamos aqui para mostrar o que já se viu, nem para desenterrar o que foi enterrado pelo ruído, ou para falar com aqueles que talvez nunca venham a responder; estamos aqui com a intenção de oferecer um lugar para contemplar o vazio.


[Co-produzida com a Galeria ZDB, P857 insere-se no contexto do ciclo temático Exílios]

Entrada gratuita.


Poster © Dahaleez Collective

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