Comemorações do 25º Aniversário de Sintra – Património Mundial da UNESCO

Nos dias 21 e 22 de Novembro, no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, realiza-se um simpósio em comemoração do 25º Aniversário de Sintra como Património Mundial da UNESCO.
  • Ciclos temáticos

21 e 22 de Novembro - Auditório Acácio Barreiros, Centro Cultural Olga Cadaval


Comemorações do 25º Aniversário de Sintra – Património Mundial da UNESCO
Património e Sociedade: Princípios, Pensamento e Acção


No dia 6 de dezembro de 1995, a paisagem cultural de Sintra foi classificada Património Mundial da UNESCO. Um passo importante para o reconhecimento dos interesses colectivos da humanidade, a classificação veio permitir uma renovada preocupação para com a conservação dos elementos culturais e naturais da paisagem de Sintra, tornando-se particularmente relevante numa altura em que a acção humana é cada vez mais desastrosa para com o seu passado, presente e futuro.


Mas como pensar o património nestes tempos em que a sua componente estética como atracção turística tende a sobrepor-se à sua vivência histórica e material? Como pensá-lo num momento de crise em que os centros das cidades se revelam na sua fundamental ausência de vida? Que nos diz este inusitado período que atravessamos sobre a (des)valorização do património tantas vezes deixado à contemplação das massas que agora escasseiam? Quem habitou a cidade ao longo dos anos? Quem a habita hoje?


Levada ao extremo, a preservação da herança cultural da humanidade pode correr o risco de se limitar a conservar intactos locais e edifícios que deveriam ser “vividos”, tornando-os antes, de certo modo, apenas corpos estranhos ao funcionamento pleno e orgânico da cidade. Uma “cidade-museu” pode rapidamente transformar-se numa cidade para turistas, o que está nos antípodas do conceito de civitas latino, já que relegará, inevitavelmente, os seus cidadãos para uma condição secundária, para uma posição periférica. A defesa do direito ao espaço público torna-se, assim, primordial na promoção de uma sociedade civil crítica e comprometida com o bem-comum. É, pois, fundamental revisitar o património como um local transformado ao longo dos tempos pelos que aí passaram, e em transformação.


Em vários lugares do mundo, a valorização do património resultou muitas vezes na marginalização de comunidades locais. A massificação do turismo em locais classificados como património mundial da UNESCO tem levado a uma crescente preocupação com a gestão de visitantes e a exploração do território nesses novos contextos. Sabemos hoje que o turismo de massas se tornou um problema para as cidades históricas, destruindo a sua identidade cultural e criando renovadas dificuldades e pressões económicas para a população local, alterando a sua vivência. A relação observada entre a elevação de um lugar a património mundial e o crescimento do turismo configura, por isso, uma contradição elementar. Encontramo-nos perante uma situação em que a vontade de preservar e proteger uma cultura pode, paradoxalmente, contribuir para o seu esvaziamento. Como ultrapassar esta contradição? Este não é um desafio que possa ser ignorado numa atitude de negligente laissez-faire e, porque é consequência de um sistema global cujas prioridades são demasiadas vezes intoleráveis, é necessário discuti-lo e enfrentá-lo.


A pandemia causada pelo surto do novo coronavírus e a forma como se expande está intimamente relacionada com a dimensão da vida globalizada no século XXI e veio colocar-nos novas questões. Recordemos por exemplo as fotografias de locais classificados como património mundial que circularam online, mostrando lugares agora vazios onde antes havia multidões. Podemos pensar também esta crise de saúde na complexidade mais ampla da vida na cidade? Revelando os contornos da vasta rede que nos liga, o impacto da crise nos quatro cantos do mundo foi a prova derradeira de que a acção humana não pode continuar a ser olhada individualmente quando as suas consequências são um problema eminentemente colectivo. Para além disso, na medida em que comunidades e famílias se viram directa e imediatamente afectadas pelo impacto da pandemia no turismo e nos seus negócios locais, é hora de reflectirmos sobre o sistema de dependência criado pela indústria do turismo global e sobre o risco que o carácter internacional das crises contemporâneas coloca sobre os mais vulneráveis. É urgente, pois, pensarmos estes desafios globais em conjunto, transportando os ensinamentos desta nova crise para tempos de maior “normalidade”.


Como reclamar a cidade como um espaço criado e utilizado por quem a habita, ao mesmo tempo que se preserva a história e a cultura de um lugar? Como salvar o espaço público da mercantilização e, simultaneamente, valorizar o património enquanto tal? E como conciliar tudo isto com os direitos de quem nos visita, de modo a evitar comportamentos xenófobos que também já começam a surgir em algumas das cidades vítimas do turismo de massas?


No 25º Aniversário da elevação de Sintra a Património Mundial da UNESCO, o LEFFEST pretende promover uma reflexão sobre as questões que atrás levantámos, organizando um debate, com a participação de urbanistas, historiadores, filósofos, sociólogos, antropólogos e outros especialistas no tema.


Alinhamento do Simpósio


21 de Novembro


10h00 Sessão de Abertura: Dr. João Lacerda Tavares, Coordenador
do Gabinete do Património Mundial de Sintra, e Paulo Branco, Director do LEFFEST
Debate “À Beira de um Ataque de Nervos – As Polémicas do Património”
Com
Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor Universitário e Investigador
Aurora Carapinha, Arquitecta Paisagista e Professora Universitária
Gonçalo Byrne, Arquitecto


22 de Novembro


10h00 Debate “Sintra, Património Cultural da Humanidade – Centro Histórico, Paisagem, Jardins, Educação, Gestão, Desafios”
Com
Ana Paula Amendoeira, Directora Regional de Cultura do Alentejo
Ana Luengo, Arquitecta Paisagista e Professora Universitária
Sofia Cruz, Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra-Monte da Lua


11h00 Debate “Que Futuro(s) para o Património?”
Com
António Guerreiro, Jornalista e Ensaísta
José Bragança de Miranda, Filósofo e Professor Universitário
Víctor Fernández Salinas, Geógrafo e Professor Universitário