Hal Hartley

Realizador

Na paisagem do cinema independente americano, Hal Hartley (n. 1959) permanece um segredo bem guardado, um cineasta raro, de culto. Porquê? Porque, ao contrário de outros realizadores da sua geração, manteve uma fidelidade férrea ao significado da palavra “independente” – além de ter a sua própria produtora (Possible Films), não abdica de um método rigoroso, que vai do elemento mais técnico ao diálogo mais filosófico ou excêntrico.

Começou no final dos anos 80, início dos 90, com a marca identitária da comédia romântica (The Unbelievable Truth, Trust), e prosseguiu com um cinema firme na ambiguidade e no gosto pela palavra.

Foi, de resto, nessa década de 90 que uma geração cinéfila viu em Hartley a grande referência do circuito independente americano. Nascido em Long Island, Nova Iorque, onde cresceu familiarizado com o ambiente da classe trabalhadora, aí encontrou elementos para a sua obra futura, que, ao fim de três curtas-metragens, arrancou expressivamente com A Incrível Verdade (The Unbelievable Truth, 1989), um sucesso considerável, que se tornou um dos seus filmes mais apreciados, numa fase já de si “dourada”, que se estendeu mais ou menos até Homens Simples (1992), passando por Uma Questão de Confiança (Trust, 1990) e Surviving Desire (1992). São filmes que transbordam a sua inspiração pessoal num certo cinema europeu, em particular o de Godard, e que assinalam uma disposição existencial diferente do mais comum registo americano.

Seguiu-se, justamente, a colaboração com uma das actrizes maiores do panorama europeu contemporâneo, Isabelle Huppert, em Amador (1994), título na tradição do policial francês, e, com experiências de vídeo digital pelo meio, numa obra que se foi espaçando cada vez mais, salta ainda à vista a trilogia formada por Henry Fool (1997), Fay Grim (2006) e Ned Rifle (2014). Hal Hartley produz, realiza, escreve os argumentos, e quase sempre assina as bandas sonoras dos seus filmes, revestindo-os de uma consciência filosófica entre a alma rock e a pincelada de humor negro.

À presente retrospectiva do LEFFEST, que conta com a sua presença, junta-se a estreia europeia do seu último filme, Where to Land, em Competição.

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