O nascimento de Irma Vep, a primeira femme fatale do cinema

30.10.2024

Em plena Primeira Guerra Mundial, com a produtora Gaumont à beira da falência, Louis Feuillade encontrou uma fórmula improvável para o sucesso: Les Vampires, uma série de curtos episódios cómicos que trouxe uma fuga muito desejada ao público. Cada episódio, com uma duração de 15 a 20 minutos, era uma nova surpresa, concebida no último momento por Feuillade, que improvisava a narrativa momentos antes de filmar. Para o espectador, esta estrutura em série criou uma sensação de expectativa quase mágica — descrita por André Bazin como o encontro entre o rei e Scheherazade, em que o conto encanta e oferece uma pausa, uma interrupção deliciosa da vida quotidiana.

No entanto, o verdadeiro marco da série e do cinema surgiu apenas no terceiro episódio, com a introdução de Irma Vep, interpretada por Musidora, que Feuillade conheceu no icónico cabaret Folies Bergère. Vestindo um ousado fato maillot de seda em vez do algodão típico, Irma Vep inaugurou o arquétipo da femme fatale, tornando-se não apenas a primeira vampira do cinema mas também a musa de toda uma geração. Para Louis Aragon, ela era “a imagem da mulher heróica e aventureira”, uma figura que cativou uma juventude limitada pela moral conservadora da época.

Irma Vep redefiniu a feminilidade no ecrã e encarnou uma nova ideia de erotismo no cinema. Com humor, Musidora recordaria mais tarde: “Tornei-me nesta vampira simplesmente porque me quiseram vestir um maillot de algodão e eu vesti um de seda. E como eu era, como diziam os rapazes, bem constituída na altura, toda a gente veio ver o maillot de seda.” Com esta escolha de vestuário, a história do cinema e do erotismo feminino encontrou uma nova expressão, uma história ditada — em definitivo — por um maillot.