No coração da Ásia, o cinema encontra o seu caminho para Lisboa

04.11.2025

O cinema produzido na Ásia Central não tem encontrado muitas estradas rumo à Europa. O LEFFEST pretende pavimentar esses caminhos com um conjunto de 12 filmes que integram o ciclo O Cinema da Ásia Central, composto por produções oriundas de países como o Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão. A curadoria também vem de longe.

Este foco na Ásia Central começa a 7 de Novembro, no Cinema São Jorge, com um filme que representa um ponto de viragem na sétima arte do Cazaquistão. No limiar do desmantelamento da União Soviética, da qual o país era uma das repúblicas, o realizador Rashid Nugmanov tornou-se o fundador da Nova Vaga de cinema cazaque, com The Needle (1988). Filme de baixo orçamento, mas com um icónico músico a liderar o elenco, Nugmanov realizou um empolgante thriller semi-experimental, onde ficamos também a conhecer alguns dos temas da banda Kino, liderada por Viktor Tsoi, esse protagonista, figura de culto, pioneira do rock na União Soviética. A sessão será complementada pela presença das curadoras do ciclo, ambas cazaques, que o irão apresentar: a produtora Julia Kim e a crítica de cinema Gulnara Abikeyeva. Com carreiras internacionais, têm um percurso também marcado pelo apoio e divulgação da criação cinematográfica na Ásia Central.

E se a curadoria é feita no feminino, vale a pena começar por destacar as produções deste programa realizadas por mulheres, um sinal do cada vez mais amplo olhar delas no cinema destas geografias. É o caso de 40 Days of Silence (2014), da cineasta e artista uzbeque Saodat Ismailova, que passou pelo Festival de Berlim no ano de estreia e será exibido no São Jorge a 13 de Novembro. Uma obra que explora o silêncio, a tradição e a força feminina numa sociedade patriarcal, ao acompanhar um grupo de mulheres da mesma família, e de várias gerações, numa aldeia uzbeque. A programação conta ainda com o filme Madina (2023), numa sessão que traz a presença da realizadora Aizhan Kassymbek no Cinema São Jorge, dia 14. Conhecida por trabalhar com equipas maioritariamente femininas, e por reivindicar outro tipo de representação das mulheres no cinema cazaque, Kassymbek traz-nos uma história sobre o processo de sobrevivência de uma bailarina que acumula trabalhos para sustentar a família, enquanto lida com o assédio do ex-marido e as investidas de um oligarca.

Mas há outros realizadores do Cazaquistão que estarão à conversa nas sessões dos seus filmes exibidos no LEFFEST. Uma oportunidade única para conhecer diferentes paisagens de cinema: a 13 de Novembro, no Cinema São Jorge, Yerlan Nurmukhambetov, do Cazaquistão, acompanha Walnut Tree (2015), uma sátira de costumes, em torno de um jovem casal que planeia casar-se segundo uma tradição local. E dois dias depois, na mesma sala, estreia em Portugal o filme mais recente deste ciclo: Abel (2024), primeira longa-metragem do realizador Elzat Eskendir. Apesar de contemporâneo, o filme tem um enredo que recua a 1993, focando um pastor que testemunha a destruição da sua cooperativa agrícola, após o colapso da União Soviética. Um filme que arranca com um plano sequência de 13 minutos, tendo recebido o Prémio da Crítica e o Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema Asiático de Vesoul.

Além das sessões com os realizadores convidados, outras contarão com a apresentação de Gulnara Abikeyeva. Saiba quais neste link, onde encontra toda a programação do ciclo Cinema da Ásia Central.