Dez filmes da secção Descobertas competem pelo Prémio TAP Revelação

29.10.2024

«Os festivais são os aliados dos cineastas. Ajudam a descobrir a verdade do nosso trabalho como cineastas. É uma espécie de jogo que ilumina as jóias escondidas», afirmou Enyedi Ildikó, que já foi jurada no LEFFEST, à Variety. É no sentido de iluminar estes «tesouros ocultos» que o festival continua a dar espaço a produções recentes e a realizadores emergentes, aqueles que vão marcar o cinema do futuro e que é urgente descobrir, oferecendo, através da secção Descobertas, uma selecção de obras distintas, garantindo opções para todos os gostos.

Lola Arias e Greg Kwedar mostram a prisão de outra perspectiva. Reas (Lola Arias) junta o documental com o musical, onde ex-presidiárias reencenam a sua vida, entrelaçando a ficção com a sua vida numa prisão, conduzidas pelas suas próprias memórias, ou pela imaginação de um futuro novo. Um filme sobre uma prisão de mulheres que promete não cair na estigmatização — um trabalho colectivo interartístico marcado pela multiplicidade de identidades. Já Sing Sing (Greg Kwedar), um drama baseado num programa de Reabilitação Através das Artes, junta antigos prisioneiros que fizeram parte desse grupo, com actores profissionais, para seguir a história de Divine G, encarcerado por um crime que não cometeu, cujo fardo emocional é aliviado pela sua dedicação ao grupo de teatro da prisão. Uma história sobre o poder regenerativo e catártico da arte num ambiente em que a liberdade individual e a expressão emocional são restringidas.

As relações familiares e sociais são um dos temas centrais nestas escolhas — Brief History of a Family (Jianjie Lin) retrata o desassossego que irrompe quando um novo membro se infiltra numa família chinesa, no pós-política do filho único. O realizador mostra como cada família tem uma entidade única e muitas vezes espelha mesmo aquilo que não é; encena o que gostava de ser; Cu Li Never Cries (Phạm Ngọc Lân) explora a relação entre a senhora Nguyen e a sua sobrinha, prestes a casar-se devido a uma gravidez inesperada. A tia desaprova o casamento e o bebé, por medo que a sobrinha cometa os mesmos erros que ela. Este é um estudo de personagem contemplativo e poético que funde o presente vivido com os ecos complexos da história vietnamita, num registo ora realista ora de fantasia; Girls Will Be Girls (Shuchi Talati) é um dramático coming-of-age que retrata a história de Mira, e a descoberta e exploração da sua sexualidade. Mira conhece Sri, por quem se apaixona, mas esse entusiasmo e atracção complicam a relação com a sua mãe, que nunca pôde experienciar essa mesma liberdade.

L’Histoire de Souleymane (Boris Lojkine) e Les Fantômes (Jonathan Millet) abordam os desafios e traumas enfrentados por imigrantes e refugiados na Europa, refletindo as suas lutas. No filme de Lojkine, acompanhamos Souleymane, um imigrante guineense em França, que busca asilo enquanto enfrenta a brutalidade da vida urbana, a burocracia e os conflitos com a polícia. A obra de Millet apresenta Hamid, um refugiado sírio que persegue o seu antigo torturador, explorando a dor e a busca por justiça. Estes filmes transformam os protagonistas em heróis trágicos, ao mostrarem a complexidade das migrações e a luta por uma vida digna.

Nesta ordem, One Of Those Days When Hemme Dies (Murat Fıratoğlu) mostra como o riso coexiste com a luta pela sobrevivência. Eyüp, que trabalha arduamente na colheita de tomates sob o sol escaldante, tem uma vida marcada por contradições que refletem as tensões da sociedade turca. Os momentos de comicidade no filme conjugam-se com uma reflexão mais profunda sobre as desigualdades da sociedade, provando que, mesmo em contextos desafiadores, o riso pode ser uma forma de resistência e resiliência. Já Kneecap (Rich Peppiatt, candidato pela Irlanda aos Oscars), que combina o profano e o político com um humor irreverente, faz uma paródia ao filme biográfico. A banda irlandesa com o mesmo nome é retratada de maneira divertida e autêntica. O humor desordenado permeia as interações do grupo, destacando críticas à autoridade britânica, tornando o filme uma celebração da cultura irlandesa e uma experiência envolvente.

Por sua vez, no coração de Super Happy Forever (Kohei Igarashi) reside uma profunda reflexão sobre como as nossas felicidades passadas ecoam no presente. A história de amor entre Sano e Nagié uma jornada melancólica que nos convida a explorar a saudade e a fragilidade das relações humanas. Ao retornarmos ao hotel à beira-mar, onde a felicidade um dia floresceu, somos confrontados com a realidade do luto e a inevitabilidade da mudança. A canção “Beyond the Sea”, de Bobby Darin, serve como um pano de fundo sonoro que intensifica essa exploração da nostalgia.

Estes dez filmes competem pelo Prémio TAP Revelação.